segunda-feira, 23 de maio de 2011

Deu-se, dá amor à dor!



Certa vez estava de plantão em uma maternidade e acompanhava o trabalho de parto de uma jovem de cerca de 20 anos. Ela estava esperando seu primeiro filho e, como era de se esperar, bastante ansiosa. Pela primeira vez enfrentava aquela situação, tudo era novo, assustador, olhava-me como quem não sabia ao certo o que fazer. Em seu olhar era visível o medo que sentia pelo que estava prestes a acontecer associado à expressão de dor em seu rosto a cada contração uterina que se seguia. Apesar de tudo isso e de tantas incertezas que se passavam em sua cabeça, ela se saiu muito bem, a jovem mamãe estava fazendo um ótimo trabalho: respirava, sabiamente, na hora que tinha que respirar e a cada vez que a dor surgia parecia fazer uma pequena oração, como se estivesse pedindo a Deus sabedoria para fazer o que deveria fazer e força para bravamente enfrentar e superar com sucesso aquele momento tão marcante em sua vida. E a jovem demonstrava tanta certeza, tanta convicção em sua oração. E de fato, a cada segundo daquele momento, Deus estava operando uma série de pequenos milagres. A jovem mamãe de primeira viagem aos poucos descobria que não precisava fazer força o tempo todo, apenas quando fosse necessário porque, afinal de contas, o parto é um processo natural e assim, através da natureza, Deus também estava fazendo sua parte, operando, a cada momento, seus pequenos milagres, naturalmente, todo o processo vai acontecendo... um momento de dor se transformando no milagre da vida. E logo que o milagre da vida se deu ali naquela sala, Deus permitiu que a mamãe visse seu filho pela primeira vez. E eu ali presenciando tudo isso me perguntava: quantos momentos mágicos podem existir em um único momento? Parece-me que o poeta estava certo ao dizer que cada criança ao nascer, nos traz a mensagem de que Deus não perdeu a esperança nos homens. O olhar e a expressão do rosto daquela jovem mamãe se transformaram milagrosamente em uma nova vida dentro dela mesma, continham a força, a admiração e o verdadeiro amor que ela sentia por aquele novo e lindo serzinho que chegava ao mundo. Quem estava naquela sala pôde ver aqueles olhos, mas mais do que isso, pôde sentir aquele olhar, e através de um simples olhar aquela jovem pôde transmitir a força do amor transformador que é o milagre da vida.    

 Thiago Moraes

3 comentários:

Camila Sousa de Almeida disse...

E tão lindo quanto aquele é o seu olhar, que viu tudo isso... ;)

Milena Caramori Doula disse...

que lindo! Tive 3 partos, os 3 normais (o segundo humanizado hospitalar e o terceiro, em casa) e a cada contração vinha a dor e a alegria de saber que o momento de pegar meus filhos nos braços estava próximo. É um milagre... e quando as pessoas que estão próximas se alegram junto a cada contração a mágica fica ainda mais linda! Eu amei parir cada um dos meus 3 fihos!

Anne disse...

Que lindo, Thiago! Não sabia que este era teu olhar sobre o parto, fico feliz em encontrar sensibilidade no olhar de um médico sobre o assunto, para quem trabalha na assistência ao parto cada bebê que nasce é mais um, mas ele nasce somente aquela vez e cada parto é único para a mãe, especialmente quando se trata do primeiro filho. Abraços!

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