domingo, 3 de abril de 2011

Medicadores de plantão - pra que serve a faculdade de medicina?



Essa semana me surgiu uma indagação curiosa: Por que vai, um paciente, à procura de um médico?
Ao tentar responder a essa pergunta várias respostas passaram em minha mente; entretanto, foi à pergunta que apareceu em seguida que fixei meus pensamentos:
Pra que serve uma faculdade de medicina?

A resposta mais direta e óbvia a essa outra pergunta é: para formar médicos.
Mas essa resposta esconde em si ainda outras perguntas:
Que qualidade de médicos as faculdades de medicina estão formando?
Médicos da qualidade necessária aos pacientes que os procuram?
E que qualidades são essas tão necessárias aos nossos pacientes?
Médicos que saibam receitar bons medicamentos?
Afinal de contas, por que é mesmo que vai, um paciente, à procura de um médico?

A palavra paciente, que vem do latim: patior (aquele que sofre), adquiriu ao longo dos tempos, desde os mais remotos até os atuais, uma série de significados:
·         Paciente é um resignado, conformado, que espera serenamente um resultado.
·         Paciente é aquele que faz com paciência, perseverando numa atividade difícil e lenta.
·         Paciente é a pessoa que padece, doente.
·         Paciente é aquele que é objeto da ação praticada por um agente.

Talvez, penso eu, a resposta à indagação inicial esteja contida na própria pergunta. Seu paciente...ativamente...vai  ao seu consultório, à sua PROCURA.

A procura em si serve como resposta. É o início, meio e fim. Só isso basta. Já lhe é suficiente.

Um aluno aplicado e preocupado procura um professor para tirar uma dúvida que noite e dia o atormenta...um professor dedicado procura nos livros a resposta que não soube dar ao aluno interessado, angustiado e atormentado...o autor do livro, um sério estudioso que dedicou sua vida ao assunto, que contém a reposta àquela tão peculiar pergunta procura fontes que sustentem sua tese...

A procura, como início, meio e fim por si só move as razões necessárias às perguntas.
E não seria a procura, além de uma resposta, também uma pergunta? Afinal de contas, só se procura o que se precisa e só procura quem precisa.

Portanto, seu paciente pode estar procurando resignação, resultados... muitas vezes difícil e lentamente, pois está padecendo, doente... desejando uma co-ação, uma ajuda, uma compreensão praticada por aquele que, na expectativa do mesmo, mais sabe. Aquele que passou seis anos ou mais estudando e se dedicando aos conhecimentos da saúde humana.

Assim sendo, penso novamente na outra pergunta: Pra que serve a faculdade de medicina?
Para formar “Medicadores de plantão”? Indivíduos especializados e angustiados com uma obsessiva e satisfatória idéia: a de receitarem remédios?
Ou para formar de fato e de direito “Médicos de plantão”?

Talvez a maior função da faculdade de medicina seja a de formar especialistas em procuras. Indivíduos estrategicamente treinados a resignar, conformar e a dar resultados. Seres humanos dispostos a praticar distintas ações para tratar daquele que padece, seja qual for a qualidade da doença, mesmo que para isso seja preciso perseverar e muitas vezes ser também paciente.

Convenhamos, um remédio é um objeto, que cabe na mão do médico; já o médico, é onde a mão cabe.

Thiago Moraes

10 comentários:

Patrícia disse...

Por isso que para meus alunos/pacientes já tenho pessoa certa p indicar!!rsrs "dá-lhe Thi Thi" =P

Fábio Oliveira disse...

Interessante sua pergunta Thiago. Ela também me perseguiu durante toda a graduação principalmente durante aquelas aulas nas quais por alguma neurose (ou quem sabe até psicose) do professor era impossível compreender alguma coisa. Hoje, após a formatura faço-me outra pergunta: para que serve um médico?
Em plena era da revolução da informação, o conhecimento, foco das arcaicas faculdades de medicina que conhecemos, não é mais monopólio médico. O paciente, antes “paciente” diante de uma solução milagrosa trazida por seu médico agora tem acesso à informação e muitas vezes chega ao consultório sugerindo o diagnóstico e a medicação para sua enfermidade por vezes corretamente. Talvez sua inquietude esteja justamente na dicotomia existente entre os “medicadores de plantão” formados pelas faculdades e o novo modelo médico exigido pela sociedade que alie seu conhecimento sobre doenças com seu conhecimento sobre pessoas.

Mente Hiperativa disse...

Claro que o medico se forma com o objetivo de atender às expectativas da demanda, solucionando com eficácia as morbidades que atacam a população.

Mas no seu questionamento, em específico com relação aos plantonistas, acredito que estes tenham o papel de solucionar o problema NAQUELE MOMENTO (por isso se di que é atendimento de emergência). O paciente que vai na emergência é diferente do que vai no ambulatório, ele precisa de uma solução rápida e eficaz, ao passo que o que vai ao ambulatório requer uma boa investigação e um tratamento de medio/longo prazo que sane ou pelo menos controle a enfermidade.

Não quero com isso afirmar que médico de plantão é um mero transcritor de receitas, ele pode (e deve) enxergar problemas maiores e fazer o devido encaminhamento para que o paciente seja corretamente tratado após uma investigação mais aprofundada do seu mal.

Não podemos aceitar que o plantonista seja uma máquina programada pra passar remédio, mas é preciso entender e diferenciar o procedimento de emergência e o ambulatorial, até porque já imaginou se todos os pacientes de ambulatório fossem à emergência? Oa que de fato precisam de um atendimento de emergência iam morrer esperando sua vez...

Estou aberto a uma réplica =P


Abraço

Thiago Moraes disse...

Sim, de fato num serviço de urgência/emergência deve-se trabalhar de forma mais focada, sem dúvidas, como vc bem explicitou. Entretanto qndo uso a expressão "médico de plantão" uso como um símbolo,como uma forma de visualizar um médico pronto, preparado, nos aspectos mais amplos da medicina; não apenas um profissional q receita medicamentos; até pq as faculdades n formam apenas "plantonistas". portanto não me referia exatamente a serviços de urgência/emergência em específico.

Mente Hiperativa disse...

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA Agora entendi. Bom, na minha faculdade (UFPE) desde cedo aprendemos a olhar o paciente como um todo, a literalmente sacudi-lo de cabeça pra baixo até encontrar aquela queixa mais escondida.

Além disso o que percebo é o intenso movimento de HUMANIZAÇÃO do profissional de medicina, desde o primeiro período nós temos contato com comunidades, USFs, depois a partir do quarto temos contato com o paciente, somos orientados a olhar e conversar com ele, tentar explorar sua vida socil e econômica, cuidar também do seu psíquico e recomendar bons hábitos de vida como coadjuvantes do tratamento.

Eu sei que hoje em dia o atendimento médico anda ruim, eu leio jornal, eu vou ao médico e sinto o descaso na própria pele, a falta de atenção, a mecanização do atendimento. Parece que a consulta se resumiu a passar exames e remédios. Mas acredito que a coisa está melhorando e acredito nisso porque vejo que o ensino está mudando, o problema está sendo consertado na raíz pra que os frutos venham mais saborosos.

Abraço

Camila Sousa de Almeida disse...

A faculdade de Medicina serve pro que você quiser que sirva. Se você quer ter diploma e status, ela serve. Se você quer aprender a ser desumano, ela serve. E se você quer aprender justamente o contrário, ela também serve. Ela serve para você aprender, seja o que for que você aprenda.

Se a forma como a Medicina tem sido ensinada, aprendida e praticada ultimamente não lhe agrada, ver as coisas como estão e optar por fazer diferente é uma forma de aproveitar a faculdade. Porque não é ela que forma o médico.

Um paciente não vai à procura de um médico, ele vai à procura de coisas que ele acredita que um médico pode lhe dar. E muitas vezes não encontra, sabendo ou não sabendo que não encontrou.

E parece que quanto mais pacientes um médico atende, menos paciente atende; fazendo com que à menos necessidades atenda.

Que os médicos sirvam à Medicina, antes de esperar que ela lhes sirva para alguma coisa.

Mente Hiperativa disse...

Ei gostei MUITO da sugestao de nome pra o blog, Mente Hiperativa², ja modifiquei rsrsrs

Oa hoje tive aula de homeopatia na facul (eletiva) ai lembrei dessa postagem tua.

Me add no msn pra gente papear (caso encontremos algum tempo livre coincidindo rsrsrs entro pouco no msn): senna125@gmail.com

Abraço

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Adorei o blog e ressalto a importancia de um bom psicológico para ajudar nos momentos dificeis de nossas vidas!
Encontrei o meu psicológo no site do Help Saúde,eles tem um banco de dados onde dá pode encontrar qualquer profissional da área da saúde mais perto de você e no perfil dele descobrir quais planos de saúde ele aceita e até a sua especialização!!

É mto bom galera!! :)

Vejam aqui no link: www.helpsaude.com

#ficaadica
Beijinhos
Ana Carol

Bruna disse...

Muito boa a postagem, gostei da explicação sobre o significado da palavra paciente. Mas vamos concordar que, essa função de formar profissionais que se resignem à procura de uma resposta é responsabilidade de todas as faculdades e de todos os cursos, mas o aluno de medicina, o médico em si, acredito que deva ir além, atrás dessa procura em detrimento de si próprio, como parte de sua responsabilidade social. Já a questão dos remédios, isso é latente na área da psiquiatria. Já vi e fui vítima de profissionais que receitam psicofármacos sem muito critério, principalmente para adolescentes.

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