sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Psiquiatria



É uma especialidade surpreendente!
Um dia pode ser o suficiente pra te cansar por um mês.
Um paciente pode ser o suficiente pra te cansar por todos os outros.
Aqui você torce pro seu paciente falar, falar, falar o máximo que puder, da forma e velocidade que puder pois o silêncio se torna preocupante. 
É olhar sem saber a quem, em que espaço e em que tempo se está olhando. 
É tocar o intocável, ouvir o inaudível. 
Encher a cabeça de nomes, dias, fatos, histórias, emoções e sentimentos. 
É se deparar, por vezes com o desumano, o desumanizado e o desumanizante. 
A psiquiatria assusta! 
Assusta mais do que causa medo. Assusta ver um quadro avassaladoramente devastador levando embora um ser inocente, belo, inteligente. Assusta ver um livro transformado em uma sopa de letrinhas, desagregado, desalinhado, picotado. 
Talvez, para que se tenha uma boa Psiquiatria, a diretriz diagnóstica mais importante e vital a todos os transtornos abordados pela especialidade seja uma que nenhum dos manuais diagnósticos adotados cita: SENTIR. 
Talvez uma definição adequada para a palavra Psiquiatria seja "Sentir a sutileza". Em nenhuma outra especialidade médica o Diagnóstico é tão ambivalente, delicado e controverso. É preciso perceber, captar as diferenças que podem estar em apenas uma palavra dita (ou não dita) pelo paciente, mais que isso, muitas vezes a diferença está não na palavra, mas nas diversas formas de comunicá-la. 
Sentir dói. 
É preciso estar disposto a sentir seu paciente, é preciso se jogar contra uma enxurrada que vem em ondas fortes, violentas e surpreendentes na sua direção e não poucas vezes em uma outra direção qualquer, e ai você tem que nadar, nadar, nadar mesmo sabendo que tem que, por vezes, permitir-se morrer na praia. Tudo isso sem se machucar. 
Como sentir sem absorver? 
É a arte do sentir e dessentir. 
É preciso querer chegar e partir sem antes saber aonde se vai nem de onde sair. 
A psiquiatria é linda e gratificante. É forte, é impactante. É compartilhar o ser humano em sua essência mais pura e crua. 
É viver várias vidas em uma só, num único dia, em um único momento em uma única sala, mesmo que não haja ninguém mais além de você nela. 

Thiago Moraes.


--
Thiago Roberto Sarmento de Moraes

http://sanidadeinsana.blogspot.com/
http://tudoglobal.com.br/category/blogs/sanidadeinsana
http://twitter.com/thiagoroberto

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O Heavy Metal é Junguiano



"Muitos de nós almejam ver a luz e viver na beleza do seu eu mais elevado, mas tentamos fazer isso sem integrar todo o nosso ser. Não podemos ter a experiência completa da luz sem conhecer a escuridão. O lado sombrio é o porteiro que abre as portas para verdadeira liberdade."

Ao ler o trecho supracitado do livro "O lado sombrio dos buscadores da luz", da escritora americana Debbie Ford, logo me vi, anos atrás, deitado em meu quarto com fones de ouvido, sentindo no mais alto e bom som, toda a melancolia, fúria, beleza e força do mais autêntico Heavy Metal, pra ser mais específico Doom/Gothic Metal. 

A Obra se baseia no conceito de "Sombra" elaborado pelo Psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, que pode ser resumido (não, não pode!) com as próprias palavras de quem o criou: "É a coisa que uma pessoa não tem desejo de ser".  

Quem me olhava via por fora tanta calma e serenidade sem saber que ali dentro tudo urrava. Após alguns minutos tudo estava em sintonia e ao terminar de ouvir o álbum e sair do quarto a sensação era a de estar saindo de mim mesmo. Era a minha meditação. 

Mal pude me dar conta na época que a música se tornara uma das principais responsáveis pelo meu contato mais íntimo com a ciência da alma e comigo mesmo. O Metal foi o meio para um fim desconhecido. Não era a letra, não era o som; o que eu queria ouvir era a mim mesmo.

Muitos não entendem como alguém pode gostar de um som agressivo ou tão grotesco ou ainda tão negativo e pessimista. Alguns associam o estilo musical a práticas religiosas obscuras; todos temos os nossos próprios demônios. Para alguns é difícil aceitar o que não se pode entender. Para outros é melhor exorcizar o que não se pode conviver. Para mim, o Metal é Junguiano.

sábado, 20 de outubro de 2012

De cores e sombras



Mostrei o perigo
A dor e o riso
Expulsei o tremor do meu corpo
Apaguei as luzes e mostrei as sombras

Senti falta
Lembrei da presença
Senti-me cheio
Na ausência da ausência

Senti aperto
Lembrei da essência
Senti-me leve
Leveza por essência

A sombra assusta, é sem cor... traz consigo o frio.. o temor
Projeta de uma forma distorcida aquilo que é real
Nem sempre vemos as sombras... A luz é maior e mais forte
É preciso ter coragem para apagar as luzes e mostrar as sombras
Algo que se faz em terrenos firmes, na presença de confiança, amor e esperança
Não é em qualquer lugar que se caminha às escuras. É preciso sentir-se inteiramente à vontade e ter total confiança no terreno. Talvez, ao fazer isso, andando nas sombras, sem enxergar a beleza que há em si e a sua frente, você pise no solo de uma forma desajeitada, machuque o terreno as flores ou as gramas. Dói ver o belo terreno machucado.

Vejo um belo campo, largo e imenso com flores de todas as cores, com as mais belas borboletas pairando e me lembro que tudo isso foi nutrido e construído com a mais bela e forte luz, a luz que como a solar aquece de uma forma tão gostosa toda a vida presente nesse campo e de repente me dou conta que não só a luz foi vital para esse milagre da natureza... mas também as sombras... toda flor precisa de sombra para crescer completa e inteiramente... todo campo necessita de sombra para o prosperar da vida em si... o campo claro, iluminado é enorme. A sombra é pequena ali debaixo do pé de árvore. É possível descansar na sombra, é possível desfrutar de paz debaixo da árvore. É possível apreciar e se deliciar com seus frutos, até mesmo ali, debaixo das sombras. Mas o campo é muito maior, não é necessário ficar ali por muito tempo. Podemos correr, pular, gargalhar e deitar por todo esse terreno lindo, aquecido e colorido. E nesse campo todas as cores me lembram você.

domingo, 6 de maio de 2012

Sonhos de sabão



Às vezes penso que os sonhos são como bolinhas de sabão. Criados por um sopro de esperança vindo dos ingênuos pulmões de uma criança que desconhece a dor daqueles que se arriscam. Assim como as crianças olham para as bolinhas de sabão eu olho para os sonhos. Em câmera lenta elas parecem subir cada vez mais alto, e de tão frágeis que são, sobem cada vez mais lentas. É possível prolongar os sonhos, como as crianças fazem ao observar aquelas bolinhas de sabão. São encantadas é verdade, observá-las demais pode fazer com que cresça a expectativa de que as mesmas não estourem, afinal de contas é bonito ver as bolinhas brilharem um arco-íris dentro delas. Ainda assim elas estouram. Acabou o sonho? Eu costumava ficar triste quando as bolinhas de sabão estouravam. Mas com o passar dos anos fui percebendo um fenômeno interessante ocorrendo dentro de mim. Cada vez que eu criava uma nova bolinha de sabão, frágil e colorida, criava-se também, no meu ser mais profundo, a ânsia pelo fim que viria; agora o que eu queria mesmo era ver a bolinha de sabão estourar... e se espalhar... e espalhando junto com ela aquele meu sopro ingênuo e esperançoso para o mundo. Fui percebendo que a bolinha de sabão era o veículo, a forma redonda que simplesmente carregava as minhas intenções ao mundo. Era o estourar que eu desejava, afinal de contas, se a bolinha não estourar continuará restringindo a minha energia empenhada dentro dela mesma. Assim são os sonhos. Um sonho não se acaba... ele se transforma, realiza a energia empenhada e a expõe ao mundo. Hoje me vejo como a criança que descobre que seu real desejo é o estourar da bolinha. Que "O sonho" se transforme em realidade então. O que eu quero mesmo é estourar todos os meus sonhos.

Thiago Moraes 

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Sentir-se Ser



Curioso o fato das pessoas serem aquilo que sentem mas não se sentirem ser o que são. “A gente é o que a gente pensa” ou “você atrai o que transmite” são frases comuns no nosso dia-a-dia e em minha opinião completamente verdadeiras, mas ainda assim podemos perceber que por diversas vezes as pessoas dizem que nós somos exatamente aquilo que não achamos que somos ou, por vezes, nós achamos que somos exatamente o que as pessoas acham que não somos... e mais uma vez a gente entra no mundo das percepções. Você já percebeu se a percepção da pessoa sobre você é igual à percepção que você tem sobre a percepção da pessoa sobre você? Você pode perceber tudo sobre a percepção dos outros? Aliás, será que os outros podem perceber tudo sobre você? Talvez você perceba apenas o que os outros ainda não perceberam em você e julgue que isso seja o todo dessa percepção, quando na verdade pode ser que você ainda não tenha percebido aquilo que a pessoa percebeu sobre você. Fico me perguntando então, como poderemos usar nossa percepção da melhor forma, para nós mesmos e para os outros? Como você faz para usufruir da sua percepção?
Você utiliza os seus sentidos? Você ouve o que as pessoas falam sobre você? E se você puder ouvir agora o que elas não falam, preste atenção, talvez você ouça melhor. Você vê o que as pessoas falam sobre você? Olhe bem, olhe de novo, algumas pessoas falam visualmente muito melhor do que auditivamente, talvez você possa notar gestos, traquejos, mínimos sorrisos no canto da boca que falam muito além do que se vê, você já viu os seus gestos enquanto vê os gestos dos outros? Você já tocou o que as pessoas falam sobre você? Pode parecer estranho, mas podemos tocar, sentir na pele aquilo que os outros percebem de nós. Já percebeu? Não é à toa que, por exemplo, numa relação amorosa os dois amantes sintam em algum momento que podem palpar aquela realidade vivida a dois. Os sentimentos são palpáveis, já sentiu? Preste atenção no seu coração, na sua respiração quando você está com alguém que ama, dá pra sentir na pele não dá? Talvez você possa também, sentir na pele o que sente e o que sentem por você. Preste atenção em que parte sua você ainda não percebeu que sente a percepção dos outros sobre você. 
Auditiva, visual ou cenestesicamente, talvez a melhor forma para perceber o que se percebe da gente seja se perceber diferente... nós podemos mudar o tempo todo os canais de percepção que possuímos quando usamo-los para perceber o que somos lá dentro de nós mesmos. Os canais de percepção são como portas que nos dão acesso ao maior tesouro que já possuimos e assim, simplesmente, podemos ser o que se é.
 E se você sentir sua pele agora, não só por fora, mas também por dentro, talvez você possa perceber o sangue vivo circulando em você. E se você ouvir agora, não só os sons do ambiente mas os sons do seu corpo, talvez você possa ouvir o som de um coração forte e vibrante dentro de você. E se você fechar os olhos externos e abrir seus olhos internos para enxergar aí dentro, será que você vai perceber o que ainda não percebeu agora? Você é uma metáfora perfeita de vida, energia, força e segurança. Desfrute de tudo isso que você já é.

Thiago Moraes.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Gira Sol!


Era uma vez uma boneca que queria ser um girassol. Ela passava horas observando essas plantas no jardim. E como eram coloridos aqueles girassóis... e como era gostoso o aroma que eles exalavam, atraiam abelhas e beija-flores. Todos os dias aquelas flores estavam diferentes, mais bonitas. Enquanto a boneca estava ali do mesmo jeito, com a mesma roupa, com o mesmo cabelo, com o mesmo tamanho. Ela observava que os girassóis do jardim estavam a cada dia maiores e sempre se movendo em direção ao sol, e assim queria ser como eles: absorver a energia do sol e promover também sua fotossíntese. Mas, por mais que a boneca absorvesse a energia do sol, ela tinha sempre a impressão de que não podia ser como os girassóis:  - Será que uma boneca também não pode fazer sua fotossíntese? Ela se perguntava. Triste, foi então que ela olhou para o outro lado do jardim e em meio a todas aquelas flores avistou uma linda menininha que todo dia aparecia para brincar com ela. Sentiu a alegria crescendo naquela menininha cada vez que se aproximava mais e, enquanto se movia em sua  direção, a menininha parecia cada vez maior. Como sorria a menininha ao ver sua boneca, ficava cada vez mais bonita. Sua alegria a deixava diferente, parecia colorir o ambiente e a cada abraço que recebia, sentindo o aroma gostoso que exalava aquela menininha, a boneca sentia-se afetuosamente protegida. E foi assim, observando todas as reações da menininha, enquanto recebia aquele abraço gostoso, que a boneca se deu conta de que talvez não fosse como o girassol, pois, na verdade, ela já era como o próprio sol. 

Thiago Moraes

domingo, 13 de novembro de 2011

Vivendo a vida que vive você



Você já parou para observar que quando nós abraçamos alguém sentimos algumas partes dessa pessoa e outras não? Você já reparou que partes dessa pessoa você não sente? E as partes que você sente mas ainda não se deu conta que sente?
Você já percebeu que quando abraçamos alguém, pensando no quanto gostamos dessa pessoa, estamos funcionando como um sol? Irradiando todo o nosso gostar, todo o nosso carinho, amor, afeto? Talvez nós possamos ser como o sol quando abraçarmos alguém... e se pararmos para pensar direitinho, talvez possamos ser como a lua também. Até mesmo a lua irradia a energia que recebe. Já viu como a lua pode iluminar as nossas noites? Nós, da mesma forma, podemos receber uma energia que nos chega de fora e também, da mesma forma, podemos deixá-la ir... se a energia chegou até nós é porque está em movimento e se está em movimento não vai parar em nós, assim como você já faz com a sua respiração automaticamente. Quando você respira, recebe o ar que vem de fora, absorve tudo aquilo que vai ser útil a cada uma de suas células, nutrindo-as saudavelmente, ao mesmo tempo em que o ar, automaticamente, vai absorvendo tudo aquilo que suas células não precisam e assim você joga fora o que não precisa ficar com você, o que não lhe faz bem. E você já sabe fazer tudo isso não sabe? Talvez seu inconsciente já tenha se dado conta daquilo que seu consciente ainda não percebeu e talvez agora você possa, conscientemente, se dar conta daquilo que o seu inconsciente já percebeu.  

Camila Sousa e Thiago Moraes.
Related Posts with Thumbnails